segunda-feira, 21 de julho de 2008

A “mediocre” felicidade


Ai mãe...
Quantas vezes eu disse não, renunciei a nossa semelhança, temendo ter uma vida como a sua, de ser como você, de trilhar os seus caminhos.
Infindáveis vezes...
Lembro de uma dessas vezes, que marcaram mais a mim que a você, quando no auge de minha tosca prepotência adolescente proferi aquelas palavras ferinas, que muito tempo depois ainda fere o meu rosto. Sim, pois tu me perdoaste. Eu, porém não.
“Eu nunca vou ter uma vida medíocre como a sua”. Foi a sentença, a tola sentença. Tempos mais tarde foi que entendi o quanto poderia ter te magoado, se você não fosse quem você é; esquecedoura de coisas tristes.
Porém, a vida, essa engrenagem perfeita de Deus, não esquece. Eu tive todas as oportunidades de não ter a sua vida medíocre de casa, filhos, marido, trabalho. Eu fui. Eu batalhei. E quando eu estava na beira do cume, prestes a alçar vôos longínquos, impensáveis, eu recuei.
Percebi que tudo o que eu realmente queria era a vida “medíocre” de amor, família, fraternidade, união, compreensão, cumplicidade, doação, serenidade. Tudo que eu queria era doar-me ao amor, ao lar, a vida. Criar raízes em mim mesma.
E hoje me pego fazendo as mesmas coisas que você. Coisas que sempre olhava e achava que podiam ficar pra depois, para os outros.
Acordo mais cedo para lavar roupa antes de ir trabalhar. Dispenso a soneca para fazer as coisas da casa. Mimo meu amado. Alimento o cachorro. Penso nas contas. Trabalho. Consolo um amigo. Tento dar a atenção que você me cobra, numa inversão total de papéis, carente de filha.
A filha que ainda não é mãe, mas que quando o for vai saber compreender e sorrir internamente quando seus filhos rotularem sua vida de algo “medíocre”. Um dia direi aos meus filhos:
“Sim filho, sou medíocre, como minha mãe também foi, e se Deus quiser, como você também será um dia”.

Joanna

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